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Linchamento do pai de um jovem falsamente acusado de estupro comove Argentina

A vítima era um homem de 48 anos e foi atacada após boatos nas redes sociais apontarem que seu filho tinha estuprado uma criança; Polícia afirma que o rapaz não tem nada a ver com o crime.

Publicado em 01/04/2019 06:34

Foto: Diario La Nación / BBC News Brasil

Tudo começou com um crime horrendo: um menino de 12 anos voltava da escola em um bairro pobre na cidade de Comodoro Rivadavia, no sul da Argentina, quando foi atacado por um homem com uma faca. O garoto foi então levado para um terreno e, em seguida, foi estuprado.

Horas mais tarde, um grupo de 50 moradores da cidade foi até a casa do suposto agressor, um jovem de 21 anos, mas não o encontraram. O pai do então suspeito, um homem de 48 anos, acabou sendo espancado pela multidão e, depois, jogado em uma fogueira. O homem ainda tentou fugir, mas acabou morrendo.

O grupo de moradores se reuniu depois que mensagens nas redes sociais e grupos de WhatsApp identificaram o rapaz de 21 anos como autor do estupro. O jovem conseguiu se esconder, pois foi alertado que uma pequena multidão se dirigia até sua casa para se vingar pelo crime.

No entanto, a multidão não sabia que a vítima do estupro - o garoto de 12 anos - havia negado que o jovem era o autor do estupro.

Os episódios ocorreram na segunda-feira e, nesta sexta-feira, a polícia afirmou que quatro pessoas foram detidas - três homens e uma mulher.

A polícia argentina ainda não identificou quem seria o autor do estupro.

Dois policiais estavam presente durante o linchamento do pai do jovem, mas, segundo o chefe da polícia local, os agentes "nada puderam fazer para impedir a fúria da multidão."

Informação distorcida

"A informação de quem era o estuprador da criança começou a circular de maneira distorcida", disse Martín Cárcamo, promotor criminal, ao site de notícias Infobae.

Segundo o promotor, moradores do bairro Fracción 14 receberam a informação de que o estuprador era um jovem de 21 anos, vizinho da região onde ocorreu o crime, e que já havia brigado várias vezes com pessoas do local.

A multidão acreditava que o autor do crime tinha antecedentes criminais por delitos sexuais, mas, segundo o promotor, o jovem apontado como estuprador não tinha nada do tipo em seus registros.

Segundo o promotor Martín Cárcamo, o rapaz precisou ser escoltado pela polícia e depois levado à delegacia para evitar que também fosse atacado pela multidão.

A polícia também negou que ele tivesse participação no estupro. "Confirmamos que, no momento do abuso contra a criança, o jovem estava trabalhando", disse Federico Massoni, ministro do governo da província de Chubut, na Patagônia.

'Uma loucura total'

"O que aconteceu foi uma loucura total, produto do uso irresponsável das redes sociais, que apontou uma pessoa de maneira equivocada", diz Massoni.

O subchefe da polícia de Chubut, Néstor Gómez Ocampo, deu detalhes da crueldade com que a multidão agiu. Segundo ele, as pessoas conseguiram retirar o pai do jovem das mãos da polícia - os policiais teriam impedido que o homem fosse atropelado.

Ocampo disse que um dos agressores "tentou amarrar o homem com uma corda para arrastá-lo pela rua", mas a polícia o impediu.

O Ministério Público de Comodoro Rivadavia ressaltou que o linchamento "dificultou" as investigações do estupro da crianças, podendo inclusive ter eliminado evidências.

Enquanto isso, as autoridades de Chubut informaram que iniciaram uma investigação "para determinar a responsabilidade da polícia" no incidente.

Preocupação

Nesta sexta-feira, o jornal argentino Clarín informou que uma juíza de Comodoro Rivadavia decidiu suspender as saídas temporárias de uma pessoa condenada por estupro que tinha permissão para sair da prisão para frequentar a universidade. Ela recebeu ameaças de linchamento.

A magistrada destacou que as mensagens que circularam nas redes sociais "pediam para matá-lo".

Nos últimos anos houve na Argentina vários casos de linchamentos contra suspeitos detidos por moradores. Autoridades do país estão preocupadas que as redes sociais possam potencializar mais casos de "justiça com as próprias mãos".

Fonte: Terra

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