Medo, temor e pavor: palavras frequentes nas denúncias das mulheres vítimas de assédio
Durante essas conversas todas deixaram claro o medo que tinham de denunciar. “Extremamente temerosa do que possa vir a acontecer”, disse uma das possíveis vítimas, ressaltando que sempre se sentiu “coagida e temerosa”
Publicado em 10/08/2022 13:23
A palavra medo e suas variações aparecem ao menos 17 vezes nos depoimentos das primeiras mulheres que denunciaram o ex-prefeito Marcos Marcello Trad (PSD) por crimes contra a dignidade sexual. Essas queixas motivaram a abertura de um inquérito policial contra ele, que levou à realização de buscas e apreensões no Paço Municipal de Campo Grande na terça-feira (9).
O inquérito foi aberto após denúncias de quatro mulheres. Outras 12 surgiram depois que as primeiras denúncias de crimes contra a dignidade sexual vieram à tona.
As primeiras mulheres a denunciar o ex-prefeito tiveram receio de ir até a Casa da Mulher Brasileira prestar depoimento e conversaram com a polícia na Corregedoria-Geral da Polícia Civil, segundo consta em suas declarações.
Medo
Durante essas conversas todas deixaram claro o medo que tinham de denunciar. “Extremamente temerosa do que possa vir a acontecer”, disse uma das possíveis vítimas, ressaltando que sempre se sentiu “coagida e temerosa” e agora teme “pela sua integridade física e pela de sua família”.
Outra também declarou que “teme sofrer alguma represália ou algum mal” e ainda perguntou “quem é que mexe com ele?”, se referindo ao ex-prefeito.
“Extremamente receosa, amedrontada, com pavor de sofrer alguma retaliação”, pontuou outra que decidiu até mudar o número de celular como medida de segurança para evitar perseguições.
Inquérito
Desde o mês passado, Marquinhos é alvo de um inquérito policial como suspeito de assédio sexual, tentativa de estupro, favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual e importunação sexual. As investigações começaram com quatro possíveis vítimas, mas hoje 16 mulheres já foram até a polícia para relatar crimes cometidos pelo ex-prefeito.
Para a polícia, as primeiras denunciantes relataram que houve contato com Marquinhos inclusive dentro do gabinete dele no Paço Municipal, e que ele prometia vantagens financeiras e ajuda para conseguir emprego, inclusive usando para isso programas mantidos pelo Poder Público.
Sobre as denunciantes que surgiram após o inquérito vir à tona e ser divulgado um número direto de Whatsapp para informações, não há detalhamento sobre como se davam os contatos com o prefeito enquadrados como suspeita de conduta criminosa.
As buscas feitas ontem na prefeitura tem justamente, segundo apurado pelo Primeira Página, a intenção de esclarecer a entrada de mulheres no local, por meio do cadastro que é feito, além de rastreamento dos computadores usados no gabinete.
2017
Essa não é a primeira vez que o ex-prefeito tem o nome envolvido em escândalos sexuais. Em 2018, a suspeita de assédio a uma adolescente de 17 anos, ocorrida no último trimestre de 2017, foi alvo de investigação pela Polícia Civil. Na época, a vítima era funcionária do Instituto Mirim. O caso foi concluído e relatado ao Tribunal de Justiça, onde foi arquivado por falta de provas.