Costa Rica 25 ℃

Seca pode inviabilizar supersafra de soja em Mato Grosso do Sul

Na região sul, produtores já registram perdas de em média 40% nas lavouras

Publicado em 04/01/2022 09:11

Foto:Costa Rica em Foco

As chuvas irregulares e a seca devem inviabilizar a projeção de Mato Grosso do Sul colher mais uma supersafra de soja em 2022.

A estimativa inicial era de retirar dos campos 12,7 milhões de toneladas da oleaginosa, menor apenas que o ciclo 2020/2021 que chegou a 13,3 milhões de toneladas.

Com a interferência dos efeitos climáticos, a região sul do Estado já registra em média 40% de perdas nas lavouras de soja.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja de MS (Aprosoja-MS), André Dobashi, estima que o aumento do custo para o produtor de soja fique em torno de 12% com o impacto da seca.

“Existem relatos de agricultores que precisam contratar caminhões-pipa para não perder a produção. O que a gente já percebe é que nos municípios de solos mais arenosos já temos uma produtividade muito prejudicada porque a soja não conseguiu nem colocar vagem, e isso faz com o que produtor tenha produtividade muito abaixo da expectativa, até mesmo produtividade zero em alguns municípios”, considera.

De acordo com o produtor e presidente do Sindicato Rural de Dourados, Angelo Ximenes, a produção de grãos do Estado está sob a influência do fenômeno La Niña, o que faz com que as chuvas sejam mais esparsas.

“Tanto o sul do Estado quanto o Sul do País foram fortemente atingidos pelo fenômeno. Isso dificultou desde o início do plantio no estabelecimento da cultura. Tem locais que as chuvas estão muito boas e outros com precipitações muito baixas", informa.

"Na mesma propriedade, a gente tem variação de lugar que não chove nada e em outra parte chove 50 milímetros”, complementa.

Ainda segundo o produtor, os prejuízos chegam a 40% nas lavouras da região sul de Mato Grosso do Sul.

“As perdas são bem consideráveis, porque se a gente considerar que a média daqui do Estado é de 60 sacas de soja, ou 3.600 kg por hectare, nós já estamos considerando uma perda de 40% [24 sacas por hectare]", detalha Ximenes.

"A maior parte da soja está na fase de granação [enchimento de grãos], então esse é um período preponderante no processo fisiológico. Eu vejo que é um cenário muito preocupante”, complementa Ximenes.

COMPROMETIMENTO

O agrônomo Ricardo Rigon é consultor em diversas áreas de cultivo de Maracaju, Dourados, Caarapó e toda a região sul. Segundo ele, quem plantou no início da janela de semeadura tem sofrido mais.

“Na região, tem todo tipo de prejuízo. Em uma área já perdemos 20%, outro cliente perdeu 80%, e todas próximas. Após essas chuvas [desta semana], vai dar para quantificar melhor. Para quem plantou bem cedo [em setembro], a perda foi maior, porque a seca pegou a fase de enchimento de grãos que necessita de quantidade maior de água. Já o plantio do fim de outubro e novembro está aguentando mais”, explica Rigon.

Na região norte do Estado, as chuvas apresentaram regularidade. “Considerando acima de Jaraguari até Sonora, Chapadão do Sul, as chuvas até o momento estão regulares, acredito que o problema está grave na região centro-sul de MS e vai se agravando a medida que chega na divisa com o Paraná e Paraguai”, explica o CEO da empresa de pesquisa Desafios Agro, Edson Borges.

“Temos área de pesquisa em Dourados, e a soja está com o desenvolvimento bastante comprometido, e estamos analisando se vale a pena colher, caso a situação permaneça, não iremos colher, será um ano perdido para a pesquisa”, conclui.

EMERGÊNCIA

Em decorrência da seca que prejudica o setor produtivo em diversas regiões de MS, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) decretou ontem situação de emergência para os 79 municípios.

Com o decreto, o governo vai auxiliar e direcionar recursos para reduzir as perdas, além de os produtores poderem acionar seguros, conseguirem ampliação para o pagamento de dívidas junto a instituições financeiras e oportunidade de renegociações.

Uma das regiões mais afetadas é a do Conesul, que engloba municípios abaixo do trópico de Capricórnio: Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã, Mundo Novo, Naviraí, Sete Quedas e Tacuru. Na mesma esteira, segue o estado vizinho, o Paraná. A decisão de Azambuja foi tomada em conversas mantidas com o governador Ratinho Junior, que passa pelo mesmo problema.

“Desde o mês de dezembro, estamos monitorando a questão da estiagem e da seca prolongada em Mato Grosso do Sul. Estamos com volume de chuvas muito pequenas, que trazem grandes problemas em todo Estado, por isso decretamos a partir de amanhã [hoje] a situação de emergência nos 79 municípios”, afirmou o governador.

Para o titular da Aprosoja-MS, as medidas tomadas pelo governo estadual e a possibilidade de melhora do volume de chuvas podem reverter o quadro atual.

“ Esta semana, a nossa equipe já volta a campo para fazer esse levantamento in loco e trazer para todos a real situação desse enchimento de grãos e o impacto desta seca na produção", disse Dobashi.

"Sem o monitoramento localizado, a gente não pode ainda prever queda de produtividade em função dessa etapa de enchimento de grãos, que é crucial na área da soja. Se tivermos normalidade nos volumes de chuva, [a soja] ainda pode ter a sua produtividade normalizada”, conclui Dobashi.

Pesquisadores apontam que os preços da saca de soja também podem sofrer com a interferência da produtividade. A expectativa é de oferta recorde, mas também de demandas interna e externa aquecidas.

No mercado físico, houve leve alta em relação ao fechamento de dezembro e no mercado futuro, na bolsa de Chicago, as cotações subiram, já que o clima na América do Sul segue no centro das atenções.

CHUVAS

Conforme os institutos de pesquisa meteorológica, choveu menos que o esperado para o mês de dezembro em MS, em boa parte por influência do La Niña.

O fenômeno consiste em uma alteração cíclica das temperaturas médias do Oceano Pacífico. Tal transformação é capaz de modificar uma série de fenômenos, como a distribuição de calor, concentração de chuvas e formação de secas.

O La Niña continuará interferindo no regime de chuvas de MS em 2022, assim como foi em 2021, de acordo com levantamento da Embrapa.

A estiagem para os pesquisadores é motivo de preocupação, já que o La Niña influenciou o regime de chuvas e as temperaturas no ano passado e também terá predominância neste início de 2022.

Segundo o meteorologista Natálio Abrão, tecnicamente, janeiro é um mês de muita chuva, e este deve ter chuvas fortes e até enchentes em algumas regiões.

“No entanto, o que a gente vê é que, historicamente, esse volume será abaixo do observado para o mês. Em relação à produção agrícola, não teremos os volumes aguardos para recuperação do desenvolvimento. No período de janeiro/fevereiro, as chuvas não serão suficientes para reverter as perdas”, prevê.

De acordo com o prognóstico de verão divulgado pelo meteorologista, o volume de chuvas pode ficar 20% abaixo da média esperada nesta estação. O verão começou em 21 de dezembro de 2021 e vai até 20 de março de 2022.

Por Rodrigo Almeida, Súzan Benites - Correio do Estado

SIGA-NOS NO Costa Rica em Foco no Google News

Pode te Interessar